Por que uma mudança verdadeira é tão difícil (e o que fazer a respeito)

Por que uma mudança verdadeira é tão difícil (e o que fazer a respeito)
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Você já quis mudar um comportamento — e mesmo com motivação e apoio — acabou repetindo os velhos padrões?
Se sim, você não está só. A maioria de nós passa por isso, inclusive líderes experientes e profissionais engajados no próprio desenvolvimento. O problema não é falta de vontade ou competência. Segundo Robert Kegan e Lisa Lahey, a verdadeira razão é mais profunda: é a nossa imunidade à mudança.

Vamos explorar por que tantas mudanças fracassam, como funciona essa resistência invisível e o que é possível fazer para vencê-la de forma consciente e sustentável?

A Ilusão da Mudança Superficial

Muitas vezes, começamos o ano com metas inspiradoras e audaciosas (eu tenho a minha listinha por aqui!). Queremos ser mais organizados, ter conversas mais difíceis com empatia, delegar mais ou até equilibrar melhor vida pessoal e trabalho. Mas, conforme os meses passam, os velhos hábitos voltam — e com eles, a frustração.

Essa repetição não acontece por acaso. Segundo Kegan e Lahey, quando uma mudança desejada toca em áreas sensíveis da identidade ou em medos inconscientes, ela é automaticamente bloqueada por um sistema de proteção psicológico. É como se nossa mente dissesse “não” enquanto nossa vontade diz “sim”.

O Mapeamento da Imunidade à Mudança

Para lidar com esse dilema, os autores propõem uma ferramenta poderosa: a matriz de quatro colunas. Esse modelo ajuda a tornar visível o que está operando nos bastidores da resistência.

Veja como funciona:

  1. Meta de melhoria
    O que você quer mudar?
    Ex: “Quero dar feedbacks difíceis com mais clareza e menos tensão.”
  2. Comportamentos que sabotam essa meta
    Quais atitudes você adota que contradizem seu objetivo?
    Ex: “Evito conversas difíceis”, “Adio as reuniões de alinhamento”.
  3. Compromissos ocultos
    O que você tem medo que aconteça se mudar?
    Ex: “Tenho medo de ser visto como autoritária ou insensível.”
  4. Suposições limitantes
    Quais crenças sustentam esse medo?
    Ex: “Se eu gerar desconforto, as pessoas vão se afastar de mim.”

Ao refletir sobre esses pontos, a pessoa compreende que, para mudar de fato, não basta agir diferente — é preciso revisar os significados que atribui a essas ações.

Da Teoria à Prática: Como Romper com a Imunidade a Mudança

Felizmente, não é necessário fazer uma revolução interna da noite para o dia. A proposta dos autores é realizar testes seguros de nossas novas crenças, ou seja, pequenas experiências controladas que desafiem os padrões automáticos.

Por exemplo, se você acredita que delegar fará com que você perca a autoridade, que tal delegar uma tarefa menor e observar os resultados com curiosidade? Ao perceber que o mundo não desaba, seu sistema interno começa a abrir espaço para novas formas de ser e agir.

Além disso, essa abordagem favorece o desenvolvimento de autoconsciência e autorresponsabilidade, aspectos centrais para qualquer líder ou agente de transformação.

O Impacto na Liderança e nas Organizações

Em contextos organizacionais, a imunidade à mudança pode se manifestar em líderes que:

  • Querem promover autonomia, mas centralizam decisões;
  • Desejam inovação, mas evitam o erro a todo custo;
  • Valorizam o bem-estar da equipe, mas não revisam metas irreais.

Essas contradições não indicam má fé, mas sim compromissos inconscientes concorrentes. Por isso, ao invés de apenas insistir em novos comportamentos, é imprescindível abrir espaço para conversas mais profundas — que revelem o que está por trás da resistência.

O que impede a mudança não é a falta de coragem, mas a necessidade de se proteger de algo que ainda não conseguimos nomear. – Robert Kegan

Aliás, esse é um dos diferenciais de programas de coaching e desenvolvimento bem estruturados: eles vão além da superfície e permitem que o líder se transforme de dentro para fora.

Mudar é Possível, Mas Não É Automático

A mudança real acontece quando há segurança psicológica para questionar suposições antigas, testar novas possibilidades e construir narrativas mais alinhadas com quem queremos nos tornar.

Se você é líder, coach, facilitador ou profissional em busca de crescimento, vale refletir:
Quais mudanças você tem desejado, mas sem conseguir concretizar? Que histórias você se conta sobre por que elas não acontecem?

Talvez, ao invés de mais esforço, você precise de mais consciência.
E é justamente aí que começa a verdadeira transformação.

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Fabiana Mello
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