Do pensar lógico e racional para o pensar altruísta

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Talvez você ainda não tenha percebido, ou já, mas vivemos em um momento de transição que nos exige migrar da consciência material para outros níveis de consciência. Ou seja, sair do pensamento racional para o pensar altruísta.

Ainda que, o crescimento e a aceleração estejam muito presentes em nosso cotidiano, é preciso reconhecer a necessidade de despertar para perspectivas mais amplas e profundas. Caso contrário, certamente continuaremos adoecendo a nós mesmos, os outros, o planeta.

Já estamos percebendo que crescer materialmente, desconsiderando o desenvolvimento pessoal, de fato só nos garante felicidade momentânea. Logo que a sensação passa estamos com a necessidade de buscar por mais e mais e mais.

Mais dinheiro, mais sucesso, mais aplausos, mais trabalho, mais conquistas. Não só já percebemos que, ao pensar somente no crescimento quantitativo, possivelmente estamos provocando o sofrimento à outras pessoas, como também a nós mesmos. 

E você pensa que você tem que querer mais do que precisa

Eddie Vedder, Society

Crescimento sem desenvolvimento é uma falácia

E essa crença com base na competitividade e nas necessidades do ego tem nos levado a angústia e vazio. Mas também está esgotando os recursos em todos os níveis.

É claro que os seres humanos têm necessidades materiais. Parte de nós quer se entregar aos prazeres da vida, aos impulsos em busca da satisfação dos nossos desejos sensoriais. Parte de nós opera acreditando que o mais forte é o que sobrevive e busca a supremacia sobre as outras pessoas para se autoafirmar. Parte de nós está muito mais conectada ao mundo externo e age a partir disso.

Mas há também outra parte que, ao longo do processo evolutivo individual, se volta cada vez mais para dentro de si, buscando outros níveis de consciência.

Sem dúvida é a parte em nós que sente que existe algo além da competição. Ou seja, que a vida está além da agitação cotidiana e das crenças materialistas. É a parte em nós que é capaz de sentir momentos de calma interior. E também que se sente preenchida e contempla a tranquilidade de apenas existir. No turbilhão de tarefas e na pressa nos desconectamos dessa parte, e de nossa possibilidade de pensar altruísta.

Sem dúvida, se não buscarmos o equilíbrio entre esses dois aspectos em nós, entre o crescimento e o desenvolvimento, acabaremos gerando doenças. Não só em nós mesmos, mas também a organização em que atuamos.

Pensar altruísta: Além da consciência racional e lógica

Jair Moggi, co-fundador da ADIGO desenvolvimento empresarial e familiar, em 2016 já trazia a ideia de que possuímos diferentes consciências e cabe a cada um de nós nos desenvolvermos a partir delas.

vídeo: A evolução da consciência e a emergência das escolas do altruísmo

A consciência racional e lógica, a qual estamos acostumados, tem um mecanismo muito simplista: um objeto externo impacta os nossos sentidos e cria uma imagem com base no nosso repertório.

A partir dessa imagem nós criamos um conceito, uma interpretação, e a partir desse conceito fazemos um julgamento: isso é bom ou não. Um processo muito pobre porque depende do impulso externo que será interpretado com base no repertório individual. É limitado.

E se não há objeto externo? E se não há bases para a formulação do conceito? 

Em um nível mais profundo, somos convidados a olhar o que existe além do objeto externo. A partir dessa maior amplitude desenvolvemos a consciência imaginativa, a consciência inspirativa e a consciência intuitiva, onde expandimos o nosso olhar para o todo e percebemos que não há separação. Não há objeto externo, não há imagem, não há conceito. Apenas sentimos que somos o conceito que estamos buscando explicar. Somos parte e estamos todos conectados.

Podemos chamar esse novo estágio de consciência de pensar do coração. Para isso, vamos precisar sair da jaula que busca explicação a partir de instrumentos de aprendizagem.

O pensar do coração é artístico, é vivo, é emoção, sentimento. Bem como se expande a cada descoberta. E, sim, tudo isso é muito novo para todos nós.

Podemos nos tornar seres mais autoconscientes de forma voluntária?

Rudolf Steiner, filósofo austríaco e fundador da antroposofia, em seu trabalho sobre o desenvolvimento do ser humano, identificou que por volta dos 40 anos buscamos estados de consciência diferentes do racional e lógico e dessa maneira pode levar ao desenvolvimento do amor genuíno, da entrega, da espiritualidade. 

Ou seja, ao longo das nossas vidas deixamos de ser apenas lagartas que devoram em linha unidirecional o que vêem pela frente, sendo capazes de devastar uma plantação inteira em uma noite, para nos tornarmos casulos e nos transformarmos em borboletas, que voam livremente, experimentando a leveza e espalhando a vida.

Nós estamos no limiar de ver o nascimento do pensar altruísta, como possibilidade para o encontro do equilíbrio entre o pensamento quantitativo e qualitativo, porque sim, também precisamos do material.

É com essa consciência que devemos encarar a superação do princípio do egoísmo na nossa evolução na terra. Por isso, será necessário trabalharmos o autodesenvolvimento e este é um trabalho que exige esforço. Caso contrário, continuaremos presos ao egoísmo. Por consequência, dominados pelo ego, presos a necessidades que nunca serão totalmente satisfeitas.

Para desenvolver o pensar altruísta, comece refletindo sobre o seu autodesenvolvimento. Experimente refletir sobre questões como:

  • Suas ações estão baseadas apenas em crescimento material?
  • Suas escolhas como líder tem provocado sofrimento a outras pessoas?
  • Como você pode despertar em si mesmo o olhar altruísta, saindo das suas próprias necessidades e respeitando os seus próprios limites e o dos outros? 

Como colocar em prática o altruísmo no ambiente de trabalho?

O altruísmo pode ser aprendido, pode ser treinado. Dalai Lama em um artigo para Harvard Business Review, sugere 3 práticas para o exercício da liderança a partir desta perspectiva:

  1. Esteja atento: Cultive a calma interior. Aprendendo a lidar com nossas emoções, podemos ter uma visão mais abrangente do que acontece ao nosso redor e tomar melhores decisões;
  2. Seja altruísta: Coloque em prática colaboração e cooperação. Além disso, seja honesto e transparente em sua conduta.
  3. Seja compassivo: Somos compassivos por natureza. Busque formas de demonstrar sua compaixão, ou seja, procure lidar de maneira inteligente com suas emoções.

Olhar para nossos limites e aspectos que precisam ser transformados não é uma tarefa fácil, mas necessária. Se queremos mudar o mundo, precisamos começar por nós mesmos.

Se você quiser saber mais sobre esta nova consciência, recomendo a leitura do livro Nova Consciência – Altruísmo e Liberdade.

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