Por que Management 3.0? Atualmente, em meus workshops, quando pergunto sobre os maiores desafios enfrentados pela liderança, normalmente as respostas são variações sobre um mesmo tema: dificuldades em mudar a cultura organizacional, a eterna busca teórica pela agilidade, mas deixando a prática a desejar, dificuldade em engajar e inspirar o time, de fazê-los se sentir parte do todo e até uma certa indefinição de qual deve ser o verdadeiro papel da liderança. Management 3.0 contribui com respostas sobre como lidar com todas essas dores que são trazidas à luz.
O que é Management 3.0?
Management 3.0, ou em nosso idioma Gestão 3.0, nos convida a repensar o sistema de trabalho. Combina uma série de ferramentas, práticas e jogos que estão sempre em atualização, e que tem como propósito contribuir com um ambiente de trabalho mais feliz e produtivo. Tem relação com nos conhecermos e nos conectarmos. É a chance de desenvolvermos o espaço que ocupamos para entender quem são essas outras pessoas que estão trabalhando com a gente. Curiosamente, a maioria das questões relacionadas à mudança organizacional surge junto da seguinte premissa: como eu posso mudar as outras pessoas? Mas, o grande desafio é descobrirmos o que nós podemos realizar dentro do nosso espaço de autonomia. E aqui eu recorro à máxima de Mahatma Gandhi (1869-1948):
Seja a mudança que quer ver no mundo
Mas, afinal, como chegamos na Gestão 3.0? Tudo surge a partir do livro de 2010, Management 3.0, do autor holandês Jurgen Appelo, ainda sem tradução para o português. Influenciador no ambiente ágil, o autor percebeu que falamos muito sobre método, sobre o jeito de organizar o projeto e a entrega, mas falamos muito pouco sobre o papel da liderança e de como lidamos com a gestão nesse novo contexto.
De uma visão mecanicista a organismo vivo
Gestão 1.0 reflete um estilo de liderança que tem a “mão no controle”, que pode muito bem ser ilustrada pela velha máxima “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Esse líder pensa a Organização como uma máquina, em que cada um dos colaboradores é uma parte, uma peça. E, para que a máquina funcione bem, as suas partes precisam estar sendo constantemente monitoradas. E, como máquina parada é garantia de prejuízo, então é fundamental que ela esteja sempre produzindo para gerar resultado e produtividade. Peça quebrada, portanto, é facilmente substituída por outra que funcione da maneira “certa”.
No entanto, não somos máquinas previsíveis e que executam tarefas repetitivas. Somos seres criativos e o próprio ambiente de trabalho exige cada vez mais criatividade e inovação para que possam surgir as soluções para os problemas jamais resolvidos. Dessa forma, torna-se impossível pensar as relações humanas como se fossem as engrenagens de uma máquina. Era preciso uma visão que reconhecesse a Organização, antes de tudo, como um organismo vivo.
No final dos anos 90, o livro O Monge e o Executivo, impulsionou novas perspectivas sobre o exercício da liderança. Percebemos que o real desafio da liderança estava em lidar com pessoas e não com máquinas. A este movimento, Jurgen deu o nome Gestão 2.0. No entanto, no momento em que estes conceitos surgiram não causaram mudanças de comportamento disruptivas no estilo de liderança. Por mais que o líder se encontrasse em um novo papel, priorizando o diálogo na gestão de sua equipe e lhes dando mais autonomia, ele ainda não havia conseguido realmente se desvencilhar do modelo hierárquico, ainda predominante nas organizações.
Chegamos a Gestão 3.0! A ideia aqui é que possamos pensar a Organização como uma comunidade, ou seja, é aquele lugar onde eu posso fazer o que eu quiser, desde que minhas ações, o meu trabalho, beneficiem a comunidade como um todo. Aqui, a principal tarefa do gestor é dar condições para que esse sistema cresça e se desenvolva.
Um framework ou uma metodologia?
Algo que precisamos ter claro quando falamos de Gestão 3.0, é que não se trata de mais um framework, ou seja, aqui, não estamos diante de uma metodologia ou um jeito certo de fazer as coisas. Mas sim de uma nova forma de pensar a Organização. Energizar pessoas, empoderar times, alinhar restrições, desenvolver competências, cuidar da estrutura de crescimento e estimular e manter um aprendizado contínuo são as seis perspectivas que podem nos levar a uma verdadeira Gestão 3.0.
Além dessas perspectivas há cinco princípios que nos norteiam e vale passarmos rapidamente por eles antes de encerrar esse artigo.
Os 5 princípios propostos em Management 3.0
O primeiro deles é engajar as pessoas e suas interações. Não basta que a liderança mantenha a pessoa colaboradora motivada e engajada, é também preciso que ela cuide da interação entre as pessoas.
O segundo princípio é um convite para melhorar o sistema de trabalho. Se sua equipe de trabalho não está motivada, o problema pode ser o ambiente. Se uma pessoa na equipe não está engajada, pode ser porque lhe faltam as ferramentas e competências necessárias para desenvolver adequadamente aquele trabalho e não porque simplesmente ela esteja desmotivada. Cuidar disso é dar condições para que o verdadeiro trabalho ocorra. Levando em conta não só a sua equipe, mas a organização como um todo. Em um organismo vivo não basta que uma célula esteja saudável, é preciso que todo o organismo esteja bem para que tudo flua bem.
O terceiro princípio trata de ajudar a encantar todos os clientes. Ao fazer isso, não devemos pensar apenas no cliente do nosso produto ou serviço final. É importante a gente entender que, enquanto líderes, as pessoas da nossa equipe são também os nossos clientes e encantá-las é chave essencial para o sucesso.
O quarto princípio é um convite a gerenciar o sistema e não as pessoas. Talvez esse seja um dos princípios mais conhecidos da Gestão 3.0, que é garantir que o sistema esteja funcionando adequadamente para que, assim, não haja a necessidade de o líder controlar as pessoas, que, naturalmente, estarão em condições de realizar um bom trabalho.
Por último, mas não menos importante: co-criar o trabalho. Afinal, só é possível sermos criativos e inovadores quando somos capazes de colaborar e trabalhar juntos.
Conclusão
Encerro aqui esse artigo, consciente de que estamos somente na superfície do que Gestão 3.0 represente e todo o seu potencial. O conhecimento sobre as ferramentas, práticas e jogos propostos por este movimento não se traduzem em uma receita de bolo, ou um check list que você aplica e resolve magicamente todos os seus problemas. Em lugar disso, contribui com sua jornada exercendo a liderança, nos permitindo abraçar a complexidade e tornar nosso ambiente de trabalho mais feliz e produtivo.
Se você deseja saber mais sobre este movimento que está redefinindo o sistema de trabalho, participe de um dos workshops oficiais.