Propósito e confiança: Base para liderança que transforma

Propósito e confiança
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Propósito e confiança são a base para o desenvolvimento de um ambiente de trabalho mais feliz e produtivo.

Propósito tem sido uma palavra muito usada ultimamente. Frequentemente, ouço pessoas dizendo que já não aguentam mais ouvir falar sobre isso. Então, quando usamos muito uma palavra, ela passa a fazer parte do senso comum, e pode nos fazer esquecer do seu real significado.

Uma das definições para propósito é intenção. Podemos pensar em propósito como o que impulsiona a nossa ação. Mesmo que tenhamos consciência sobre nossa intenção enquanto agimos, ela está lá. 

E confiança? Confiança pode ser definida como a crença na sinceridade, na lealdade, na capacidade de alguém. 

Pois esta é a base para uma liderança que transforma: propósito e confiança.

A Base da Liderança com Propósito

Recentemente concluí a leitura do livro Liderança e Propósito, escrito por Fred Kofman. Fred Kofman é coach e consultor, e desempenhou papéis importantes, como o de vice-presidente no LinkedIn. 

Kofman faz um convite a reflexão sobre a diferença entre gerenciar e liderar. Esta é uma das primeiras provocações no workshop Management 3.0 Foundation. Nós temos a tendência a pensar em gestão e liderança como sinônimos, quando na verdade não são. 

Enquanto o gerenciamento envolve a organização de recursos e a execução de tarefas, a liderança transcende essas funções para inspirar e motivar as pessoas a alcançar um objetivo comum. Como líderes, devemos ser capazes de conectar profundamente o trabalho diário das pessoas com quem trabalhamos com um significado maior.

Nossas escolhas com relação ao trabalho, não deveriam levar em conta somente o resultado financeiro, mas também um alinhamento entre nossos interesses, capacidades e talentos, e a tarefa que executamos.

O que você faz fala tão alto que não consigo escutar o que você diz. 

– R. W. Emerson

Os 3 pilares da liderança com propósito

Em sua experiência Kofman identificou 3 pilares fundamentais para uma liderança consciente: Autoconsciência, Comunicação Autêntica e Criação de um Ambiente de Confiança. 

1. Autoconsciência: 

Para liderar com propósito, é essencial entendermos primeiro nossos próprios valores e motivações. Essa autoconsciência é a base para todas as outras práticas de liderança. Líderes conscientes são capazes de reconhecer suas próprias crenças limitantes e trabalhar para superá-las. Sempre digo que o líder que você é, é a pessoa que você é. Não há dissociação. Iniciar um caminho de autodescoberta é uma jornada continua e intencional.

2. Comunicação Autêntica: 

Se queremos desenvolver um ambiente em que propósito e confiança são a base, uma comunicação aberta e honesta são essenciais. Dessa forma, em um mundo onde a comunicação muitas vezes se torna superficial, líderes com propósito devem ser capazes de expressar seus pensamentos e sentimentos de maneira clara e autêntica. Isso não apenas promove uma cultura de transparência, mas também fortalece as conexões entre as pessoas da equipe. A habilidade de dar e receber feedback construtivo, como explorado no programa de mentoria “Liderança que Transforma”, é uma parte crucial desse processo.

3. Criação de um Ambiente de Confiança: 

A confiança é a cola que mantém as equipes unidas. Sem ela, a colaboração se torna difícil e as organizações lutam para alcançar seu potencial máximo. Precisamos criar  um ambiente em que os erros sejam vistos como oportunidades de aprendizado, e não como falhas a serem punidas. Isso é particularmente relevante no contexto da “Produtividade Sustentável” e da “Cultura Organizacional Regenerativa”, onde o bem-estar da equipe e a saúde mental são prioridades.

Propósito como o Norte

O propósito deve servir como o norteador das decisões que tomamos todos os dias. Em lugar de focar somente em metas financeiras ou de crescimento, as organizações devem se concentrar em como podem contribuir positivamente para a sociedade. Essa perspectiva é transformadora porque desafia a noção tradicional de sucesso nas organizações. Não estou dizendo com isso que o resultado não é importante.

Toda organização precisa gerar resultados para sobreviver. Mesmo uma organização sem fins lucrativos precisa ser sustentável, mas não deveríamos tomar nossas decisões somente com base nesta perspectiva. 

Essa consciência nos convida a reconciliar o desejo por uma carreira próspera com a necessidade de sentir que estamos fazendo uma diferença significativa no mundo. A busca por um propósito maior, seja na vida pessoal ou profissional, é uma jornada que envolve coragem e a disposição de quebrar as algemas de ouro das expectativas sociais.

Propósito e Confiança: Aplicações Práticas e Reflexões

No dia a dia, colocar em prática este modo de pensar, requer uma mudança de mentalidade não só da liderança, mas da equipe também. Para os líderes, isso pode significar uma reavaliação das práticas de gestão e uma disposição para abrir mão de controles rígidos em favor de uma abordagem mais colaborativa e empática. 

Desde que conheci as práticas de Management 3.0, reconheço são uma alternativa que valoriza a autonomia e o envolvimento dos colaboradores na tomada de decisões, criando um ambiente onde todos se sentem parte. Contribuindo para a construção de um ambiente em que propósito e confiança podem fazer a diferença. 

Se você ainda não conhece as principais práticas de gestão propostas por este movimento, te convido a começar com:

Mapa Pessoal: 

Talvez você conheça o mapa mental como ferramenta para estudar e organizar suas ideias. No mapa pessoal, você aplica o mapa mental para se descrever. 

Como aplicar? Pegue uma folha de papel e escreva seu nome no centro. Em seguida, escreva categorias que possam te descrever em torno do seu nome, por exemplo, família, educação, trabalho, hobbies, e valores. Inclua informações relevantes sobre cada uma destas categorias. Peça para as pessoas da equipe fazer o mesmo e compartilhem o conteúdo, buscando semelhanças.

Jogo dos Motivadores: 

Este jogo foi desenvolvido por Jurgen Appelo, idealizador do movimento Management 3.0, e se baseia em dez motivadores inspirados nas pesquisas de Daniel Pink, Steven Reiss e Edward Deci. Estes dez motivadores são intrínsecos, extrínsecos ou um pouco de ambos.

Com os dez motivadores em mãos, o primeiro passo é estabelecer uma ordem do mais importante para o menos importante e na sequencia refletir sobre como estes motivadores estão ou não sendo atendidos em sua relação com trabalho. A equipe deve fazer o mesmo e compartilhar suas motivações com seus colegas.

O jogo dos motivadores é uma maneira leve e divertida de refletir sobre nossas preferências no ambiente de trabalho.

Lista de Valores:

Raramente dedicamos tempo para refletir sobre nossos valores pessoais, e menos ainda para discutir sobre eles com nossas equipes. Se queremos construir um ambiente de propósito e confiança, precisamos mudar isso!

Comece propondo uma lista de palavras, em que cada uma representa um valor, e peça para que cada pessoa da equipe selecione as 20 mais imporrtantes, depois em uma segunda rodada, peça para que escolham 10 entre as 20, e por último, os convide a marcar quais são as 5 mais importantes.

Finalize convidando cada pessoa a compartilhar o significado de cada um dos valores escolhidos.

Se deixamos de lado o papel da liderança, e nos colocamos como parte da equipe, este modo de pensar, nos convida a uma reflexão sobre nossas próprias motivações e como podemos alinhar nosso trabalho com nossos valores pessoais. Pois, este é um ponto central quando falamos de propósito e confiança. Cada um de nós tem sua maneira única de atuar. Ainda que seja possível compartilharmos práticas, metodologias, aprendizados, a maneira como cada um de nós exerce a liderança é tingida por nossos valores e motivação. E a consciência sobre isso pode nos levar a um estilo de vida mais autêntico e impactante.

A Transformação através do Propósito

A verdadeira transformação começa quando indivíduos e organizações se alinham com um propósito maior. Isso não apenas resulta em maior satisfação e engajamento no trabalho, mas também em uma contribuição positiva para a comunidade em que atuamos. Esse é um tema recorrente em muitas das conversas sobre autoconhecimento e autorresponsabilidade: a ideia de que, ao nos transformarmos, também transformamos o mundo ao nosso redor.

Recentemente retomei a leitura do livro Comunicação Não Violenta, agora na versão em inglês, e mais uma vez me emocionei ao ler o prefácio. Escrito por Arun Gandhi, neto de Mahatma Gandhi, o texto nos leva a refletir sobre as nossas atitudes e a nos responsabilizarmos sobre a realidade como vemos. Se as relações no ambiente de trabalho são difíceis, que atitudes posso mudar em mim para que a realidade se transforme?

E isso não significa que preciso tolerar comportamentos que não se alinham com meus  valores pessoais, mas nos torna inclusive conscientes de quais são nossos limites. 

Conclusão

Se você espera se tornar uma liderança que transforma, entenda que isso não tem relação com o cargo que você ocupa, mas  com sua autoridade moral. Então, a confiança de seu time em você não pode ser comprada ou estabelecida de maneira coercitiva, ela deve ser conquistada.

Em seu livro, Fred Kofman nos lembra que, no final do dia, a verdadeira liderança não é sobre poder ou controle, mas sobre servir aos outros e contribuir para algo maior do que nós mesmos. Certamente, essa é uma lição que todos nós, independentemente de nossas posições ou títulos, podemos levar para nossas vidas e carreiras. Enfim, a busca pelo propósito é uma jornada contínua e gratificante, que vale a pena ser trilhada.

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