Como ter sucesso em um projeto de transformação organizacional? Pergunte aos eleitos.
Em minha jornada profissional pude fazer parte de diversos projetos que tinham como propósito realizar uma transformação organizacional. Na maior parte deles, falhamos. Hoje analisando em retrospectiva penso que um dos principais motivos foi a falta de clareza sobre como engajar as pessoas ao processo de mudança. Não basta um projeto.
Há alguns anos atrás ganhei um livro de presente. Este livro se chama O ponto de virada, se você atua com gestão de mudança ou lidera uma equipe, leia. Vale a pena. Neste livro o autor compartilha situações em que transformações aconteceram a partir de epidemias sociais. E a partir de tais situações, ele extrai o que há de comum em todas elas. Vou compartilhar com você alguns pontos que considero, possam te ajudar.
Expert, Comunicador, Vendedor: Com quem você se identifica?
Uma epidemia se desenvolve a partir de um agente infeccioso que encontra um ambiente em que é capaz de se proliferar rapidamente. Estamos vivenciando na pele o que é isso, desde o início da pandemia. Literalmente, o agente infeccioso é algo que gera uma doença, mas e quando pensamos nas questões sociais? Este agente pode ser considerado como um comportamento que se prolifera, por exemplo.
Me lembro de uma visita ao Exploratorium, um museu de um museu interativo de ciência, arte e percepção humana em São Francisco – California, em que vivenciamos uma experiência interessante e que você pode observar no seu dia-dia.
Quando alguém está rindo muito diante de você, não é contagiante? Do mesmo modo, se alguém está muito triste, parece que logo esta tristeza também nos invade. Nesta experiência, ficávamos alguns segundos diante de uma tela gigante com diferentes pessoas sorrindo e depois diante de outra tela com pessoas tristes, e é claro, ri e chorei em questão de minutos.
Mas como trazer esta experiência para nosso dia-dia na organização? Precisamos estar atentos aos eleitos. Os eleitos, segundo Malcom Gladwell, são pessoas excepcionais que por meio de seu entusiamo, personalidade, energia, espalham a novidade para os demais. Ele chama estas pessoas de Comunicadores, Experts ou Especialistas, e Vendedores. São eles os capazes de contribuir com uma verdadeira transformação organizacional.
Comunicadores
Os comunicadores são aqueles com talento especial para reunir pessoas, parece óbvio dizer, mas são aqueles que conhecem muita gente. Eles são importantes não só por conhecerem muitas pessoas, mas pelo tipo de pessoas que conhecem.
Normalmente, os comunicadores fazem parte de diferentes grupos, conhecem pessoas de diferentes mundos, sub-culturas, nichos. Não estão restritos a um grupo em específico. É possível observar nos comunicadores um misto de curiosidade, autoconfiança, sociabilidade e energia.
Sua rede de contatos é uma fonte de poder social. Mas, eles não são os únicos importantes para uma epidemia social. Em uma epidemia social, tão importante quanto as pessoas que nos conectam a outras, são as aquelas com quem contamos para obter informações.
Experts ou Especialistas
Um expert ou especialista é aquele que acumula algum tipo de conhecimento. É alguém que também nutre curiosidade, assim como o comunicador, mas ele desenvolve um interesse que o faz se aprofundar em algo. Além disso, quer resolver o problema dos outros, em geral, isso faz com que ele se sinta realizado. E por que eles são importantes em uma epidemia social? Eles tem o conhecimento e habilidade social para transmitir a informação boca a boca.
Os experts não tem talento para persuadir ninguém, mas eles tem o desejo de ensinar e ajudar. Eles fornecem a mensagem e os Comunicadores a espalham.
Vendedores
Quem são os venderes? Aqueles capazes de nos convencer quando não acreditamos no que estamos ouvindo. Diferente de Comunicadores e Experts, os Vendedores são capazes de persuadir. E o que faz alguém ser persuasivo? Esta é uma resposta complicada. Os persuasivos são capazes de se comunicar além do que é dito. Eles nos contagiam emocionalmente.
Então, você se identifica com algum dos eleitos? É possível energizarmos mais de um papel. Por exemplo, sermos bom comunicadores e também experts em determinado tema. Mas, não necessariamente.
Fator Fixação
Nas epidemias o mensageiro é fundamental, mas o conteúdo da mensagem é muito importante. Malcom Gladwell traz algumas reflexões importantes a respeito da mensagem, como por exemplo:
- Ela pode ser memorizada com facilidade?
- Será algo tão simples de lembrar que consiga promover uma mudança?
- Será capaz de estimular alguém a agir?
A resposta a estas perguntas ajuda a definir o poder de fixação da mensagem. Se a mensagem for ruim, não há eleito que dê jeito.
Quando ouvimos algo prático e pessoal, é fácil nos lembrarmos, não é verdade? Ao transmitir uma mensagem, se desejamos que ela seja capaz de influenciar alguém, precisamos torná-la irresistível. Como você tem tornado irresistível as mensagens sobre a transformação organizacional que deseja realizar?
O poder do contexto
Talvez você possa estar pensando que seu próximo projeto de transformação pode ser melhor, envolvendo os eleitos e desenvolvendo uma mensagem incrível. Mas a verdade, é que se você deseja transformar a cultura organizacional, seu desafio não pára por aí. É preciso ter consciência sobre a influência do contexto.
O impulso para determinados comportamentos não vem somente de característica do indivíduo, mas também de características do ambiente.
Em minha primeira viagem a trabalho para Espanha, depois de um dia trabalho, saíamos para comprar algumas coisas que precisávamos em um supermercado próximo ao hotel em que estávamos hospedados. Na volta, já noite, um de meus colegas chamou a atenção para o fato dos motoristas pararem para que os pedestres atravessassem a rua, não só nas faixas de sinalização. Eu duvidei. Então, ele me desafiou ao teste, começamos a atravessar a rua com um carro a poucos metros de distância e ele parou.
Refleti muito sobre este episódio e lendo o livro, fiz uma analogia a esta situação. Naquele ambiente, naquela cultura, os motoristas param. Então, mesmo aqueles que são de culturas diferentes e que eventualmente não tem o hábito de parar para pedestres atravessarem a rua em seus países, ali eles fazem isso.
Alguns pesquisadores afirmam que honestidade, por exemplo, não é um traço fundamental. Mas que sofre uma influência considerável da situação.
É muito comum ficarmos presos a crença de que somos isso ou aquilo. Menosprezando o poder de influência da situação e do contexto. Neste sentido, criar ambientes em que novos valores e comportamentos possam ser praticados, manifestados e nutridos é um dos pontos chave de sucesso em projeto de transformação cultural.
Outro dado relevante no conteúdo compartilhado por Malcom Gladwell, é o resultado de uma pesquisa que afirma que o número máximo de pessoas com as quais podemos ter um relacionamento social, ou seja, saber quem são e como se relacionam conosco é de 150. Isso faz com que cruzar a linha dos 150 pode tornar a transformação ainda mais desafiadora.
O ponto de virada
Como ter sucesso em um projeto de transformação organizacional?
- Tenha atenção ao ambiente. Que pequenas mudanças podem ser realizadas e que contribuem para o futuro desejado?
- Envolva comunicadores, experts e vendedores. Talvez você não seja nenhum deles, neste caso, quem eles são?
- Desenvolva com clareza e empatia a sua mensagem.
Acima de tudo, cuidado com o propósito da mudança.
Que impactos você espera gerar em sua organização, na comunidade em que ela atua, no planeta?
2 comentários em “Como ter sucesso em um projeto de transformação organizacional?”
Boa noite Fabiana!
Os eleitos agem com muita entrega e trazem consigo o pertencimento. Já aproveito para fazer uma pergunta: Quais estratégias utilizar para desenvolver o sentimento de pertencimento nos colaboradores?
Ótima pergunta Pedro! Penso que investir em desenvolver uma boa relação de confiança com a equipe é o primeiro passo. Isso passo por ter clareza sobre valores organizacionais e conexão com valores de cada individuo, além disso, entender a motivação de cada um e qual a sua contribuição. Nos sentimos pertencendo a uma comunidade quando compartilhamos os mesmos valores, propósito e acima de tudo, nos sentimos seguros para nos expressarmos em liberdade. Faz sentido para você?