Como você lida com as críticas?

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Ouço muitas pessoas reconhecerem que o feedback é uma prática que contribui com o desenvolvimento profissional e pessoal. Mas porque nem sempre lidamos bem com as críticas? Ainda que sejamos capazes de reconhecer que elas contribuem para uma versão melhor de nós mesmos?

Críticas e Autocompaixão

Um dos motivos pelos quais tentamos nos esquivar das críticas, vem de nossa capacidade de criticarmos a nós mesmos. Talvez você já tenha vivenciado uma situação em que após receber uma crítica de alguém, a sua autocrítica foi ainda mais severa e falas como: “Como fui estúpida, não poderia ter deixado que isso acontecesse.”, “Você não aprende nunca”, “Você não acerta uma mesmo”. 

Somos nosso próprio carrasco e isso nos impede de nos abrirmos para receber o feedback das pessoas que convivem conosco. Afinal, lidar com estas falas internas não é fácil.

Mas como lidar com isso? A autocompaixão é um antídoto. A pesquisadora Kristin Neff, professora de psicologia da Universidade do Texas em Austin e pesquisadora do assunto, define autocompaixão como sendo a capacidade tratar a si mesmo com a mesma gentileza e cuidado com que você trataria um amigo.

Então, você se reconhece como sendo seu melhor amigo?

No livro Comunicação Não Violenta, o psicólogo americano Marshall Rosenberg, aborda a importância do desenvolvimento de uma atitude compassiva conosco mesmo. A medida que estudo e pratico a Comunicação Não Violenta, compreendo cada vez mais a importância da autocompaixão como caminho de abertura e desenvolvimento de uma atitude empática com o outro.

Um ponto importante destacado por Marshall, está em como fazemos nossas escolhas. Se a culpa ou a vergonha estão influenciado nossas decisões, algo precisa ser transformado. Deveríamos caminhar na direção do que nos leva a alegria de viver.

Ao nos colocarmos com mais consciência diante de nossas escolhas, uma boa pergunta é se estamos na direção em que gostaríamos de ir. Além disso, substituir a culpa, o ódio ou a vergonha por respeito e compaixão. 

Para lidar melhor com as críticas, troque o tenho que por escolho fazer

Um exercício interessante, se você percebe que ainda fazendo muitas coisas por obrigação, pode ser:

  1. Listar tudo o que tem feito por obrigação;
  2. Escrever a palavra escolho, na frente de cada item. Por exemplo, se o item for: participar de reuniões em que a pauta não está clara, então escreva: escolho participar de reuniões em que a pauta não está clara;
  3. Agora complete cada frase com porque quero e escreva a intenção, por exemplo: escolho participar de reuniões em que a pauta não está clara porque quero ser aceita por quem realizou o convite.

Para cada item da sua lista, avalie sua intenção:

  • Se for dinheiro: lembre-se que esta é uma estratégia para atender a uma necessidade. Você poderia pensar em outra estratégia?
  • Aprovação: utilizar suas capacidades para valorizar a vida, por ser mais recompensador do que obter a aprovação de alguém;
  • Evitar uma punição, vergonha ou culpa: em qualquer caso, se você ainda não se ressente, é provável que aconteça em breve. Reflita se nestes casos, é possível escolher fazer o que você faz com a intenção de contribuir para a felicidade do outro e se isto, de alguma forma, faz com que se sinta bem.
  • Por dever: quando você se sente sem escolha. Quando suas próprias necessidades são ignoradas.

Depois de avaliar a lista, reflita sobre o que você realmente precisa realizar. Lembre-se de avaliar a lista como seu melhor amigo faria, com compaixão.

Cuidados com os gatilhos ao receber uma crítica

E como isto tudo se realiza com a dificuldade de receber críticas? Pense em você com uma lista cheia de “tenho que” e depois de todo o esforço para se sentir aceito ou aprovado pelo outro, você recebe uma crítica. Provavelmente, a crítica acionará um gatilho que despertará pensamentos como: “Depois de tudo o que fiz?”, “fulano não reconhece meu esforço”, …

O exercício da autocompaixão, nos ajuda a compreendermos que a crítica diz respeito a um aspecto sobre um comportamento, sobre algo que é visível para o outro e não representa a totalidade sobre quem eu sou. Como esta crítica contribui para que eu viva com mais alegria? Ou como esta crítica contribui para que eu possa desenvolver comportamentos que contribuem com a felicidade do outro? Estas são perguntas que podem ser respondidas a partir do exercício da autocompaixão.

Críticas, feedback e o desenvolvimento de uma cultura de aprendizado

Praticar o feedback em nosso dia-dia no trabalho é uma forma de contribuirmos com o desenvolvimento uns dos outros. São presentes que podemos oferecer com a intenção de tornar visível algo que o outro não vê e eu vejo. Estes presentes não se resumem a críticas, mas também a elogios. 

Receber um elogio faz com que nos sintamos felizes, não é verdade? O fato é que muitos de nós guardam os elogios nas gavetas e se concentram apenas no que pode ser transformado. Você pensou na quantidade de presentes que estão por aí escondidos? E que poderiam tornar o dia de alguém mais feliz?

Desenvolver uma cultura de aprendizado, passa por aprendermos a lidar com as críticas que recebemos. A forma como reagimos ao feedback, contribuirá ou não para o desenvolvimento de uma boa relação de confiança com as pessoas que convivem conosco. Então ao receber uma crítica, lembre-se da autocompaixão, e desenvolva uma atitude de curiosidade e abertura diante do feedback. Ouça para entender a perspectiva do outro e não para responder.

Em nosso ambiente de trabalho, assim como na vida, podemos focar no que ainda falta ou desenvolver alegria e gratidão pelo que já fomos capazes de realizar. Onde você tem colocado foco?

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