Como promover a colaboração (e lidar com as diferenças) no ambiente de trabalho?

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Um dos autores que influencia muito meu trabalho é Adam Kahane, especialista em ajudar pessoas a trabalharem juntas para solução de problemas. Em seu livro Trabalhando com o Inimigo ele desmistifica a crença de que colaboração é sinônimo de trabalho harmonioso.

Quando pensamos a colaboração a partir de relações de parceria, rejeitamos colaborar nas situações em que há conflito de ideias e valores. Se não sinto simpatia pela outra pessoa, evito colaborar com ela. E é aí que os obstáculos para a colaboração começam a se tornar intransponíveis.

Mas a realidade é que não precisamos concordar com o outro para colaborar com ele. A seguir compartilho com você as possibilidades propostas por Adam Kahane, incluindo é claro, meu ponto de vista.

Há alternativas a colaboração no ambiente de trabalho

A definição da palavra colaboração, nos remete a contribuição para que um trabalho em conjunto possa ser realizado. Do ponto de vista prático, é muito difícil você obrigar alguém a colaborar de maneira genuína. A colaboração deve ser uma escolha e acontecer em liberdade.

Diante de situações complexas, temos 4 alternativas: colaborar, forçar ou impor a nossa solução, nos adaptar, ou nos retirar ou fugir. 

O que fazer se você não pode mudar a situação?

Diante de qualquer situação, nossa primeira pergunta deveria ser: posso mudar ou influenciar o que acontece aqui? E se a resposta for não: entra nossa capacidade de adaptação ou a escolha consciente de nos retirarmos. 

Há situações em que precisamos encontrar alternativas de convivência, e tomar consciência sobre a necessidade de adaptação, evita desgastes e desperdício de energia. A adaptação requer coragem e uma capacidade de lidar com nossas próprias emoções e expectativas. 

A adaptação é uma opção quando faz sentido conviver com a situação, quando esta atitude contribui de alguma forma com atendimento de nossas necessidades, quando tem significado e propósito. Nem sempre nos adaptar termina em um final feliz, mas em algumas situações é o melhor que podemos fazer.

Agora, se a adaptação exige que você abra mão de seus valores, do que considera importante e significativo para você, talvez a melhor alternativa seja se retirar. Em algumas situações se retirar é rápido e fácil, em outras requer abrir mão de coisas que são importantes para nós, e isso nos causa sofrimento. Tem um ditado que ouvi algumas vezes que diz: antes um final terrível a um terror sem fim. Talvez este ditado se aplique aqui.

Afinal, forçar uma solução é sinal de autoritarismo?

Quando acreditamos que devemos mudar a situação e que sabemos o que precisa ser feito, corremos um grande risco. Outras pessoas podem exercer uma força contrária e assim os resultados que esperávamos alcançar se tornam impossíveis. Mas e se você estiver em uma situação de risco? 

Colaborar é aproveitar a oportunidade de avançar em parceria, e assim ter um resultado que pode se mostrar mais sustentável no longo prazo, uma vez que os envolvidos participam da decisão. Mas e quando você deseja colaborar, mas as outras pessoas envolvidas não?

Se você me acompanha por aqui, já sabe que estudo a biografia de Nelson Mandela e que sua história de vida é uma inspiração para mim. Mandela foi uma pessoa que soube se engajar as ideias de sua comunidade, mas também se impôs quando percebeu o risco de não fazê-lo.

A colaboração como conhecemos é limitada

Nosso jeito mais comum de colaborar, é acreditar que há uma solução correta e que todos precisam contribuir para que a verdade seja prevaleça. Porém, vivemos um contexto cada vez mais incerto, em que não há certos ou errados, mas diferentes pontos de vista. Nos apegamos a nossas opiniões e quando outros nos questionam, sentimos que nossa identidade está sendo questionada.

Colaborar exige abrir mão da resposta certa, e do que acreditamos ser a solução ideal. A busca por um ideal que possa ser considerado verdadeiro e significativo por todos, é origem de muitos conflitos e situações de violência e agressão. 

A colaboração pressupõe avançarmos conjuntamente sem que para isso estejamos de acordo com uma verdade absoluta. Nosso sistema social é cada vez mais complexo, e o controle cada vez mais uma ilusão.

Alternando entre conflito e conexão

“O poder sem amor é imprudente e abusivo. E o amor sem poder é sentimental e anêmico.” – Martin Luther King

Em um contexto complexo, alternamos entre conflito e conexão. Como sugere Adam Kahane, entre amor e poder. Se estamos sempre nos engajando nas ideias de outras pessoas, provavelmente estamos deixando de compartilhar as nossas. A colaboração exige aprender a lidar com a discordância. 

O conflito leva a diferenciação e a individuação. Já a conexão gera homogeneização e integração. Quando colaboramos hora nos engajamos com outras pessoas e hora afirmamos nossas ideias, através de um impulso de bloqueio, reação ou resistência. E é este movimento que nos permite evoluir.

É preciso ter cuidado para não ficarmos presos em um dos pólos. Nos submetendo a manipulação ou impondo nossas ideais.

Abrace a incerteza

Lidar com a complexidade é aprender a acolher a incerteza. A colaboração neste contexto, nos convida a experimentação. Não haverá uma receita de bolo ou um manual a seguir. Portanto, é importante dar um passo, observar o que acontece e experimentar mais um passo.

A Comunicação Não Violenta oferece uma grande contribuição. Pois em lugar de um planejamento ou jeito certo de fazer as coisas, precisamos exercitar um nível de presença e diálogo que nos permita muito mais compreender o outro, em lugar de ter uma resposta certa.

Como você contribui para que as coisas sejam como são?

Nós contribuímos para que as coisas sejam como são. Quanto mais estudo e observo a visão sistêmica das organizações e da sociedade, mais claro para mim se torna a imagem de que estamos todos conectados. Estamos a todo momento influenciando e sendo influenciados.

Culpar outras pessoas pelo que nos acontece é só uma forma de nos defendermos. E fazemos isso talvez pelo medo e insegurança. Toda mudança gera desconforto, resistência e oposição. Então é preciso aprender a lidar com isso, não nos excluindo, mas nos reconhecendo como parte.

Olhar para nós mesmos, investindo em autoconhecimento, nos ajuda a reconhecer onde podemos melhorar. Aqui vale a máxima do Gandhi: Seja você a mudança que deseja ver no mundo.

Conclusão

Lidar com a complexidade promovendo colaboração, depende de quanto conseguimos lidar com nossa dificuldade de abrir da resposta certa. Meu caminho pessoal para lidar com esta dificuldade em mim, tem sido investir em me conhecer melhor. Autoconhecimento é a na minha opinião, a chave para desenvolver espaços de diálogos que transformam.

Se a colaboração é um desafio para você: 

1. Comece investindo esforço na prática de atenção plena. Percebendo que acontece com você e como se sente diante de ideias diferentes das suas.

2. Estude e pratique a Comunicação Não Violenta. Costumo dizer a que a Comunicação Não Violenta é na verdade um caminho de autodesenvolvimento, pois nos convida e tomar consciência sobre o que sentimentos e nossas necessidades associadas a tais sentimentos.

O que é mais fácil para você? Se engajar as ideias de outras pessoas ou impor o que você acha que é o certo?

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